Medida é retaliação pela abertura de uma embaixada taiwanesa no Estado Báltico. Beijing não admite a ilha ser tratada como nação independente
No mais recente episódio da
crise diplomática entre China
e Lituânia, neste domingo
(21), Beijing anunciou que rebaixou oficialmente suas relações com Vilnius. A
medida é uma retaliação pela abertura de uma embaixada de fato de Taiwan no Estado Báltico,
reforçando que o país asiático não quer que a ilha autônoma seja tratada como
uma nação independente. As informações são da rede CNN.
Os chineses têm em Taiwan sua
questão territorial mais sensível e manifestam irritação com qualquer movimento
que sugira que o território seja um Estado autônomo. Ao identificar
contrariedade ao princípio defendido de “Uma Só China“,
Beijing vem aumentando a
pressão sobre os países para não se envolverem com os
taiwaneses, entre eles os
Estados Unidos.
As tensões escalaram em
agosto, quando a China anunciou que havia decidido chamar de
volta seu embaixador na Lituânia, bem como exigiu que o governo
lituano fizesse o mesmo com seu representante em território chinês. O
incidente tinha relação com o fato de a ilha, um mês antes, anunciou a
instalação de um departamento de representação em Vilnius, chamado “Escritório
de Representação de Taiwan”.
Mas mesmo com os recados
enviados, o Escritório de Representação taiwanês na Lituânia foi inaugurado na
quinta-feira (18). Apenas 15 países têm laços diplomáticos formais com Taiwan,
mas muitos outros mantêm embaixadas denominadas “escritórios comerciais”.
Outros gabinetes da ilha na Europa e nos EUA utilizam o nome Taipei, evitando
uma referência ao território semiautônomo, algo que irrita ainda mais Beijing.
Ao emitir um relatório sobre o
caso, o Ministério das Relações Exteriores da China alega que a Lituânia
ignorou a “postura solene” do país e as normas básicas de relações
internacionais ao dar sinal verde para que Taiwan firmasse seu escritório em
Vilnius. Além disso, pontuou que a medida “minou a soberania e integridade
territorial da China e interferiu grosseiramente nos assuntos internos da
China”, estabelecendo um “mau precedente internacional”, disse o comunicado.
Como
consequência, o órgão governamental chinês comunicou um racha
diplomático e que, de agora em diante, as relações entre os países
serão rebaixadas ao nível de encarregado de negócios, um degrau abaixo do
embaixador.
“Instamos o lado lituano a
corrigir seus erros imediatamente e não subestimar a firme determinação do povo
chinês e a firme resolução de defender a soberania nacional e a integridade
territorial”, impele o documento assinado pelo Ministério das Relações
Exteriores.
Já o Ministério das Relações
Exteriores da Lituânia disse em comunicado que “lamenta” a decisão da China,
mostrou matéria da agência catari Al Jazeera.
“A Lituânia reafirma sua adesão à política de ‘Uma China’, mas ao mesmo tempo
tem o direito de expandir a cooperação com Taiwan”, disse a carta assinada pela
pasta.
Os EUA ofereceram benefícios à
Lituânia para que resista à pressão que vem da China, que viria em forma de um
acordo de crédito de exportação de US$ 600 milhões por meio do Banco de
Exportação e Importação dos EUA ainda nesta semana.
Por que isso
importa?
Relações exteriores que tratem
Taiwan como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo
com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como
território chinês.
Diante da aproximação do
governo taiwanês com os Estados Unidos, a China endureceu sua
retórica contra as reivindicações de independência da ilha
autônoma no ano passado, e as tensões geopolíticas escalam com rapidez na
região.
Jatos militares chineses
passaram a realizar
exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan,
enquanto Beijing deixou claro que não aceitará a independência do
território “sem uma
guerra”.
O embate,
porém, pode não terminar em confronto
militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram
relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho, de acordo com o site
norte-americano Business
Insider.
O documento, lançado pelo
governo taiwanês no ano passado, pontua que Beijing não teria capacidade de
lançar uma invasão em grande escala contra a ilha. “Uma invasão provavelmente
sobrecarregaria as forças armadas chinesas”, concordou o relatório do
Pentágono.
Caso ocorresse, a escalada
militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda
assim, ambos os documentos reconhecem que a China é capaz de bloquear
Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação.