Os amigos e familiares de Eduardo Marques Vattimo Vaz protagonizaram uma mobilização que iniciou no local do acidente (onde Eduardo foi atropelado) e terminou na Praça Dr. Fernando Abbott. As pessoas pedem Justiça. O rapaz que dirigia o carro estava embriagado. As penas ainda são leves e fica uma sensação de impunidade.
As estatísticas mostram que a cada sete minutos uma pessoa é atropelada no Brasil. Em pelo menos três casos investigados pela Polícia Civil de São Gabriel, nos últimos meses, três mortes.
Em um deles, um idoso de 87 anos foi atropelado por um automóvel branco. O condutor sequer parou para socorrer a vítima. Agostinho da Luz Ferreira morreu alguns dias depois no Hospital de Santa Casa de Caridade. Para a família, ficaram três sentimentos. Além da saudade, as sensações de insegurança e impunidade.
Ferreira foi atropelado minutos depois de sair de casa, na Rua Inocêncio da Cunha Gonçalves, entre os bairros São Sebastião e Capiotti. Os familiares contam que o idoso desmaiou e só acordou no hospital. “Ele não sabia o que tinha acontecido. Sentia muitas dores, mas acabou não ficando hospitalizado”, disse o filho, Paulo Augusto Peres Ferreira, de 50 anos.
O idoso foi liberado, mas as dores continuaram. “Ele dizia que sentia uma pontada e dores nas costelas. Voltamos, pela segunda vez, ao hospital. Ele sequer ficou em observação. Foi atendido e liberado. Quando retornou, pela terceira vez, acabou sendo internado. Ficou cerca de 15 dias e acabou falecendo”, explica o filho.
Para a família, ficou a certeza de que os problemas de saúde foram provocados pelo acidente. Já o laudo médico aponta que o idoso morreu devido o agravamento de uma lesão nos pulmões, nada relacionada ao atropelamento.
Agostinho morreu alguns dias depois de ser atropelado. O laudo diz uma coisa, mas a família tem dúvidas.
A Polícia Civil concluiu o inquérito e o condutor responsável pelo atropelamento ainda não foi identificado.
O jovem Eduardo Marques Vattimo Vaz, de 21 anos, morreu na manhã de 03 de julho, no Hospital de Santa Casa de Caridade. O rapaz havia sido internado seis dias antes, após ter sido atingido – em sua moto – por um automóvel em alta velocidade.
O acidente aconteceu na madrugada de 28 de junho, por volta de 2 horas, no cruzamento das ruas Maurício Cardoso e Coronel Soares. Vaz foi levado para o Hospital de Santa Casa de Caridade onde permaneceu internado em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O motorista do automóvel – identificado como sendo Vagner Diniz Olaz, de 20 anos – foi preso em flagrante. Ele atravessou a preferencial em alta velocidade. Por causa da violência, a moto e o motociclista foram lançados contra a parede de uma casa. A Polícia confirmou que Vagner estava embriagado.
No início desta semana, quando completou um mês da morte de Vaz, amigos e familiares realizaram um ato, no local do acidente, em homenagem a vítima. Cerca de 50 pessoas, com cartazes e fotos, pediram justiça, paz e responsabilidade no trânsito. O grupo realizou uma caminhada e um momento de oração em frente a Igreja Matriz.
A Polícia Civil concluiu inquérito e indiciou o condutor por homicídio culposo. O jovem responde em liberdade.
A morte de Antônio Nelso Machado, de 27 anos, levou a Polícia Civil a vasculhar placas e caminhões na região de São Gabriel, Santa Margarida do Sul e Vila Nova do Sul.
O rapaz morreu atropelado no começo da noite de 17 de junho, no quilômetro 395 da BR-290, em Santa Margarida do Sul, quando saía do trabalho. Ele conduzia uma motocicleta quando foi atingido por um caminhão que trafegava pela rodovia.
A imagem de uma câmera de segurança e depoimento de testemunhas ajudaram a Polícia Civil a identificar o veículo. O motorista margaridense negou o crime, mas as provas levaram a Polícia a indiciá-lo por homicídio culposo.
No Estado, um caso – registrado no dia 2 de julho – tem repercutido nas redes sociais. A família de Ana Carolina Eschembach Neves, de 8 anos, está emocionada com a solidariedade demonstrada por pessoas que torcem pela recuperação da menina, internada há mais de um mês após sofrer um acidente de moto com o pai, na Zona Sul de Porto Alegre. Em uma rede social, a página “Todos Somos Aninha” já tem mais de 21 mil curtidas.
A colisão entre um carro roubado e a moto em que ela estava aconteceu na Estrada Costa Gama. O pai, Paulo Rogério de Paula Neves, de 34 anos, dirigia a motocicleta e morreu na hora. Dois suspeitos do acidente foram presos.
Antônio Nelso estava saindo do trabalho quando foi atropelado. O motorista do caminhão nega o crime, mas foi indiciado e está respondendo por homicídio culposo
Após ficar 15 dias internada no Hospital de Pronto Socorro (HPS), a menina foi transferida para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital da Criança Santo Antônio. Ela bateu a cabeça e tem várias lesões no cérebro. Segundo os médicos, o estado dela é grave.
O estado de saúde da menina, a morte de Paulo e a dor da família fizeram com que muita gente se juntasse na batalha pela recuperação da criança.
A repercussão do caso surpreende a família. “Nunca imaginei que tudo isso, por mais doloroso que seja, ia se transformar nessa corrente de oração e solidariedade. Isso tudo me fortalece, nos dá forças para seguir em frente, e é o que está me sustentando agora”, afirma Indionara.
A prisão dos suspeitos também tranquiliza um pouco mais a família. “A gente quer justiça. A gente não quer vingança. Que se apure as pessoas que fizeram para não ficarem impunes, que essa pessoa que fez não faça de novo ou pelo menos coloque a mão na consciência. Eu tirei a vida de um pai, de um irmão, de um amigo, e deixei uma filha lá no hospital”, diz o tio de Aninha, Flávio Roberto de Paula Neves.
Um empresário foi preso em casa em Novo Hamburgo e um funcionário, dele, foi detido em Porto Alegre. A identidade de ambos foi preservada, e as prisões foram temporárias.
Para quem acompanha tudo isso, fica a sensação de impunidade. Para aqueles que viveram na pele, fica o desejo de justiça.
MAIS RIGOR
Lançado em 2011, projeto de lei do “Não foi acidente” já obteve mais de um milhão de assinaturas. A ideia do projeto é criminalizaro a mistura de álcool e direção, prevendo tolerância zero para essa união, aumentando a pena. “Na prática, lutamos por leis menos permissivas, fiscalização eficiente e punição exemplar”, explica Nilton Gurman, que perdeu o sobrinho atropelado por uma nutricionista em 2011.
Atualmente, um motorista que provoque a morte de alguém enquanto está ao volante, mesmo que bêbado, só pode ser condenado de dois a quatro anos de prisão se for réu primário. Mas na prática, penas de até quatro anos de cadeia podem ser convertidas em serviços comunitários. Então é raro que alguém permaneça preso sob essas condições.
O projeto de lei do “Não foi acidente” já foi aprovado, em abril deste ano, na comissão de trânsito da Câmara dos Deputados. Agora ele será encaminhado para a CCJ – Comissão de Cidadania e Justiça e lá será analisado para depois ir para a Câmara dos Deputados, Senado e Presidência.
Fonte: https://n1noticia.wordpress.com/