O caso de homicídio mais chocante e triste que Bagé já viu será levado a júri popular. A mãe da menina Mirella Silva Rodrigues, de 5 anos e 11 meses, Michele Silva Rodrigues, de 32 anos, foi pronunciada pela juíza Naira Melkis Caminha na última sexta-feira e será julgada no Tribunal do Júri.
Conforme a sentença de pronúncia, a juíza da Primeira Vara Criminal do Fórum de Bagé, não concedeu à ré o direito de recorrer em liberdade. Na explicação, a magistrada ressalta que o fato é grave, e tendo a ré respondido ao processo presa, permanecendo presentes os motivos que determinaram a sua prisão, em especial a ordem pública, que ficou abalada em razão de a vítima ser criança e filha da acusada.
O crime ocorreu no dia 3 de fevereiro deste ano, por volta das 2h, na avenida Visconde de Ribeiro Magalhães, bairro Santa Tereza, Agrovila, Parque do Gaúcho, em Bagé. Quando a denunciada Michele, mediante asfixia, matou a filha Mirella.
Michele foi pronunciada por crime de homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, visto que, sendo filha do relacionamento anterior da acusada, a vítima Mirella representava “um estorvo” para a nova unidade familiar estabelecida entre ela e o atual companheiro, Márcio Alves Machado.
Na sentença de pronúncia a juíza também salientou que o assassinato foi cometido por emprego de meio cruel, consistindo na asfixia, com a utilização de uma bermuda, vestimenta com a qual a denunciada obstruiu a respiração de Mirella até causar sua morte. Também foi praticado mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima, sendo ela criança de tenra idade, totalmente indefesa, que foi colhida de surpresa enquanto dormia, motivo pelo qual não pôde esboçar qualquer reação defensiva.
A mãe da vítima também praticou o crime prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade e como foi cometido contra criança há um agravante.
Depoimentos
No inquérito policial, a acusada relatou que, no inicio da madrugada do dia do crime, ela estava em uma vizinha, quando, por volta das 00h30min foi para casa com a vítima e o outro filho.
Em depoimento, Michele relatou que chegou em casa e colocou seus filhos para dormir, mas que ficou andando pela casa e que teria “uma voz que lhe dizia: vai lá e mata ela (Mirella)", que, assim, a filha não incomodaria mais e que aquilo ficava martelando na cabeça dela.
Michele relatou no depoimento à polícia que ficou pensando em matar a filha para resolver seus problemas. Ela afirmou que pegou um calção rasgado do seu marido, que estava em cima do roupeiro, e relatou: “Aí peguei uma sacola de plástico dessas de mercado, enrolei na mão esquerda, sentei ao lado da cama em que ela (Mirella) estava dormindo, e, com o calção rasgado, coloquei no rosto dela, tapando a boca e o nariz, para ela não respirar mais. Ela ficou se debatendo, até me chutou, e aí ela foi parando de se mexer e parou, parece que deu uma última respirada e acabou”.
Continuando o depoimento para os policiais, Michele disse que, então, pegou o corpo da sua filha e o levou para o mato perto da sua casa, voltou para casa e ficou pensando no que iria fazer. Por volta das 4h do dia do crime, chamou sua cunhada Miriam, que mora perto da sua casa, e disse para ela que Mirella estava desaparecida, oportunidade em que foi registrar o desaparecimento da filha na Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento.
Em abril foram ouvidas sete testemunhas de acusação. A defesa não apresentou nenhuma testemunha.
Uma vizinha contou que a acusada dizia que a filha era um fardo em sua vida e que a menina passava mais tempo em sua casa do que com a mãe.
Ministério Público
A assessoria do promotor criminal destacou que não irá recorrer da decisão da Justiça, pois a juíza Naira Melkis Caminha acolheu a integralidade da denúncia. Também foi informado que talvez o julgamento ocorra no final do ano ou no início do próximo, conforme o andamento do processo.
O defensor público foi procurado pela reportagem mas não foi encontrado.
Fonte: http://www.jornalfolhadosul.com.br