07/07/2016

Primeiras mulheres a ingressar na BM em Livramento, preparam-se para a aposentadoria

Turma que ingressou na década de 90, falou sobre as dificuldades da inserção na carreira militar e a expectativa pela reserva

O mês de julho de 2016 promete ser um mês marcante, para as primeiras mulheres que incorporaram na Brigada Militar, de Livramento. Em 1993, 59 mulheres divididas em duas turmas, nas cidades de Uruguaiana e Sant’Ana do Livramento, ingressaram na BM. Após 23 anos de serviço militar, elas encaram um desafio diferente: a aposentadoria. Durante duas décadas de história, as pioneiras da BM na fronteira foram aos poucos, mudando o cenário da corporação na região.

Das 59 mulheres, 30 delas realizaram curso em Livramento, e permaneceram na cidade, em princípio com o intuito de integrar a equipe de policiamento ostensivo, distribuídas em viaturas, módulos da cidade e escolas. Atualmente, restam oito mulheres da turma feminina pioneira. Na última semana, a reportagem de A Plateia esteve no quartel do 2º Regimento de Polícia Montada (RPMon), e pôde ouvir as histórias de pelo menos cinco brigadianas, que aguardam o período de reserva.

Em um encontro repleto de nostalgia, guiado por álbuns de fotos que remetiam a época em que ingressaram na vida militar, a 1º Sargento Zaquel Beatriz Ruisdias e as 3º Sargento Jaci de Oliveira Furtado, Mara Rejane dos Santos Echevarria, Mari Vasconcelos da Silva e Marisa Fontoura Duarte Veloso, puderam relembrar as histórias vividas no cotidiano da BM. A conversa descontraída, também relembrou momentos de dificuldades e desafios, sobretudo enfrentados no início da carreira. Adversidades começaram a ser evidenciadas logo no princípio, durante o curso de preparação das policiais. Com personalidades diferentes, o grupo de 59 mulheres precisou ter paciência e jogo de cintura para enfrentar o primeiro desafio que estava por vir: a convivência. “A adaptação entre nós no começo foi meio difícil, porque cada uma tinha um pensamento. Imagina 59 mulheres dentro de um alojamento. Teve briga, discussões. Mas depois a gente foi formando grupos e foi se adaptando”, conta Mari.

O preconceito diante do “sexo frágil”

Superado o primeiro obstáculo – talvez o menor deles – as primeiras mulheres da Brigada Militar na fronteira, tiveram um novo caminho na quebra de paradigmas e de enfrentamento de preconceitos, tanto dentro do ambiente – até então – predominantemente masculino da corporação, como perante a sociedade. “Dos colegas mais antigos nós tivemos uma certa resistência, pelo fato de aqui ser uma cidade do interior e não ter uma oficial feminina. Então nós íamos tirar serviço, na linha de frente junto com eles e nas ruas, as vezes, em determinadas ocorrências e nos provocavam, até para ver que tipo de reação nós teríamos. Foi uma adaptação difícil, tanto para eles (oficiais antigos), quanto para nós”, destacou Jaci.

Apesar da dificuldade enfrentada no início, a inserção feminina aos poucos começou a ser aceita, tanto internamente, quanto pela sociedade. Com a aceitação, vieram as mudanças e as adaptações, que trouxeram mais comodidade para a corporação como um todo. “Mudou muita coisa a partir da nossa entrada”, destaca Mara. “Por exemplo, antes de nós entrarmos os colegas usavam capacete. Um capacete duro, que machucava a cabeça e era pesado. Depois que nós entramos, pelo fato de nós usarmos coque, eles substituíram pela cobertura branca. Isso para eles foi um avanço, uma evolução. Aí começaram a nos ver de outra forma, nas pequenas coisas que a gente foi conquistando”, acrescentou Jaci, que passou por diversas funções na Brigada Militar. Orgulhosa e com riso largo, ela conta que atuou também no Pelotão de Operações Especiais (POE) e no Presídio de Porto Alegre, onde ela classifica como ‘uma escola de vida’. “Eles (presidiários) não sabem qual a tua reação como mulher, então até eles tentam – por serem homens – muitas vezes se sobrepor. Aí tu tens que te manter firme, para mostrar para o que tu veio, porque tu estás ali e a função que tu ocupas”.

A proximidade da reserva e os planos para o futuro

Prestes a tornarem-se oficiais da reserva, a pergunta sobre a expectativa quanto a aposentadoria, parece inquietar as militares, que demonstram incertezas, emoção e a convicção do dever cumprido em suas respostas. “Vai ser difícil”, comenta Mari. “Eu acho difícil pela questão que a gente conquistou amigos e colegas e são muitos anos de convivência.

Este regimento para nós é a nossa segunda casa. Com a minha reserva se aproximando, eu acho estranho de não vestir mais isso aqui”, conta Mara, emocionada e orgulhosa, apontando para a farda que veste. “Eu entrei com 18 anos, eu deixei uma vida aqui dentro. É óbvio que eu vou levar muitos aprendizados, mas na vida da gente tudo tem um início, um meio e um fim. E eu jamais vou deixar de ser policial”, destaca Jaci. Visivelmente emocionada, Mara conclui: “Eu amo a Brigada Militar, porque ela nos proporcionou tantas coisas boas, que jamais eu vou deixar alguém falar mal da nossa instituição. Ela (BM) é uma mãe para nós”.

Sobre os planos após o aposento da farda, as militares ainda apresentam algumas indefinições acerca do futuro. Professora por formação, Zaquel conta que continuará na profissão ao qual se formou. Para Jaci, a prioridade será o descanso, aliado aos trabalhos manuais – seu maior passatempo. Mãe de um menino, Mara explica que dedicará mais tempo à família e que no futuro pretende fazer algum tipo de qualificação. Até o fim deste mês, alguns desses planos deverão começar a ser colocados em prática, somadas as mudanças de cotidiano e os desafios do dia-a-dia de oficiais de reserva da Brigada Militar.

Fonte: http://www.aplateia.com.br