No início da noite de domingo(18), integrantes do Movimento Sem Terra invadiram uma propriedade rural da região da Florentina. Segundo líderes e pessoas ligadas às famílias, a área tem o equivalente a 518 hectares, fica a cerca de 50km da área central do Município e estava há três anos sem nenhum tipo de produção. Em entrevista na tarde de ontem, o vereador Itacir disse que a área seria destinada para a produção de celulose, mas ainda assim estaria improdutiva. O proprietário foi identificado como de Santa Maria e já teria se deslocado para a região a fim de ingressar com pedido de reintegração de posse. A Redação entrou em contato, mas o produtor não quis gravar entrevista.
Segundo informações, ainda da tarde de segunda-feira (19), o acampamento montado pelos invasores já tinha recebido abastecimento de água e a Brigada Militar já havia deslocado policiamento.
Em entrevista para a RCC FM, a assentada Juscilei Santos e o vereador Itacir disseram que a invasão foi feita com 400 famílias (350 originadas de Livramento e 50 de Alegrete). A ação faria parte de um movimento estadual e foi seguido por ações em São Lourenço com a ocupação de terras por mais 400 famílias; e em Pelotas com cerca de 200 famílias.
Segundo o vereador, a área invadida fica entre os assentamentos de Dom Camilo e São João. Os invasores cobram a aplicação da reforma agrária que, segundo eles, estaria parada e reivindicam também um cronograma de assentamentos. Juscilei Santos disse que em nenhum momento os invasores pretendem o conflito.
Segundo Juscilei, já faz quatro anos que o INCRA não vem a livramento para fiscalizar terras. Perguntada sobre os lotes em assentamentos que teriam sido abandonados ou negociados, a assentada disse que considera serem poucos na região, mas não citou números exatos. Segundo fontes que pediram sigilo, existem em Livramento lotes em terras de assentamentos que poderiam ser destinadas para muitas das famílias que estão em acampamentos aguardando serem assentadas.
Dentro do acampamento
Em parceria com o Repórter Fotográfico Fabian Ribeiro, a Reportagem do Jornal A Plateia conseguiu também acesso exclusivo ao interior e dependências do acampamento dos Sem Terra. No local são cerca de 400 famílias (dentre elas 150 mulheres e 60 crianças). O grupo disse que não quer violência. No campo, os invasores já montaram barracas e improvisaram uma cozinha com um fogão a lenha. As acomodações são mínimas, apenas lonas e lenhas para se proteger do frio com três grandes acomodações coletivas. Um dos coordenadores do MST na região, Vicente Wilson, disse que as famílias participaram da invasão com a ideia de conquistar um lote para a produção familiar e ficarão acampadas até o alcance do objetivo. O grupo chegou no domingo, dentro de três ônibus. O grupo não tem como tomar banho e algumas mulheres apenas tem acesso a uma sanga próxima para fazer a higiene. Na manhã desta terça-feira está prevista uma reunião com lideranças, representante do INCRA e o vereador Itacir na Capital, Porto Alegre. O grupo promete ficar no local e já demandam também articulações com o executivo local.