Valorizar a História rio-grandense e a cultura açoriana é o objetivo do projeto “Vestígios Açorianos”, que grava imagens de locais e de personagens históricos em telas de cerâmica, que lembram os tradicionais azulejos portugueses. Elas vão ficar expostas em 14 cidades gaúchas, entre elas
Caçapava, onde os quadros estão sendo afixados em prédios públicos desde a semana passada.
As peças são bonitas e a iniciativa é louvável, mas os autores tropeçaram na pesquisa histórica e na revisão dos textos.
Algumas das placas, por exemplo, têm um erro de data: o texto menciona que Caçapava foi Capital Farroupilha em 1939, quando, na verdade, foi um século antes, em 1839.
Outras podem gerar interpretações equivocadas para os espectadores, pois mostram o Forte D. Pedro II e os heróis farroupilhas Bento Gonçalves e Anita Garibaldi. Porém, o Forte não tem nenhuma relação com a Guerra dos Farrapos. A construção da fortaleza (iniciada em 1848 para proteger o Sul do Brasil de invasões estrangeiras) começou quando a Revolução Farroupilha (1835-1845) já tinha acabado. Bento Gonçalves, inclusive, já estava morto quando o Forte começou a ser erguido. O general farroupilha morreu em 1847. E Anita Garibaldi estava na Itália, onde morreu em 1849.
O local escolhido para as peças também gera confusão. Na placa colocada na fachada da Prefeitura lê-se: “Nesta residência, foram instalados os ministérios do governo Republicano Rio-Grandense (...)”. Um visitante entende que “nesta residência” refere-se ao prédio onde está a placa. Só que o texto está se referindo à Casa dos Ministérios, que fica três quadras distante dali, na rua Sete de Setembro.
Uma placa igual foi fixada no Centro Municipal de Cultura.
Além dos deslizes no conteúdo histórico, os textos têm erros de concordância e de ortografia, como nomes de personagens históricos escritos com iniciais minúsculas.
Com tudo isso, ao invés de saudar os heróis históricos, o projeto fez lembrar outro gaúcho ilustre, o poeta Mario Quintana, que sentenciou: “Um engano em bronze é um engano eterno”. Em porcelana também.
Procurada pela Gazeta, a artista plástica Denize Domingues, responsável pelo projeto “Vestígios Açorianos”, disse que se sente “envergonhada em relação aos erros de português e de data histórica nos azulejos espalhados pela cidade” e que a exposição “era apenas para decoração dos ambientes, que foram escolhidos por uma comissão composta pela Secretaria de Turismo”.
Em relação aos personagens Anita Garibaldi e Bento Gonçalves, ela disse ”se tratar de uma licença poética, não de erro histórico, já que o município enaltece bastante estes dois guerreiros”.
Denize informou ainda que as peças serão recolhidas para correções e que em no máximo duas semanas elas retornarão ao município.
A produtora Cultural Renata Becker, parceira do projeto e responsável pela divulgação dos “Vestígios Açorianos”, presente em 14 cidades, enviou uma nota à Gazeta após ser contatada:
NOTA
Primeiramente pedimos desculpas por termos pecado na revisão gramatical e erros de digitação, como no caso da data da capital Farroupilha.
Entraremos em contato imediatamente com a Secretaria de Cultura para a substituição das placas acrílicas informativas com erros.
Em relação à imagem fixada no Forte, trata-se de uma alusão e homenagem aos heróis da Revolução Farroupilha, tão reverenciados nessa cidade que serviu como capital da República Rio-Grandense. No local onde foi construído o Forte há registros de que já havia uma trincheira. Sendo este um trabalho de artes visuais e a artista plástica agregou criatividade artística ao trabalho.
O mesmo ocorreu nas placas com registros fotográficos atuais, onde foram sobrepostas imagens de casais açorianos buscando estabelecer um elo entre as diferentes épocas.
A escolha dos locais e as respectivas placas foram feitas por orientação da Secretaria de Cultura e não tem relação com as imagens retratadas, pois trata-se da exposição de obras artísticas e não referente à arquitetura.
(Produtora Cultural Renata Becker)
Fonte: http://www.gazetadecacapava.com.br