Confira como será preparada a festa de setembro e a entrevista exclusiva com o primeiro casal
O casamento coletivo é uma cerimônia que reúne vários casais e declara oficialmente a união dessas pessoas resguardando seus direitos e garantias. Para Santana do Livramento, esse tipo de cerimônia nunca chamou tanto a atenção quanto de março deste ano até agora.
O motivo é simples: além de fazer o enlace de casais heteros, a solenidade também reconhece como família a união entre casais do mesmo gênero, ou seja, casais homossexuais, ou como a doutrina jurídica apregoa: homoafetivos.
Em março deste ano, a união entre Daniela e Mariana marcou a história não só da cidade, mas também do Estado do Rio Grande do Sul, quando se tornou a primeira união de um casal do mesmo gênero no estado por meio de um casamento coletivo. A Juíza responsável pela quebra de paradigmas, Carine Labres, tem quatro anos na carreira de Magistratura e afirma que enquanto estiver à frente de eventos assim, jamais permitirá que o direito de minorias seja abafado por preconceitos.
O 2° casamento coletivo marcado para setembro teve a inscrição não apenas de um, mas de dois casais, quatro mulheres que resolveram superar os medos e garantir seus direitos diante do Estado. A cerimônia será realizada dentro de um CTG, Sentinelas do Planalto, e por isso, tem levantado várias polêmicas sobre o tema. Segundo a Juíza Carine Labres o objetivo jamais foi polemizar ou criar embaraço com movimentos tradicionalistas, ao contrário, foi de valorizar a cultura gaúcha e garantir direitos a todas as famílias plurais reconhecidas pelo Estado de Direito.
Preparativos
O primeiro casamento contou com 56 casais e diversos colaboradores, além do apoio do Tribunal de Justiça. Foram 112 alianças, preparativos de cabelo no Estúdio de Beleza, limpeza de pele, pintura de unhas, dia da noiva, fotos, sonorização, ambientação, bolo, salgados, juiz de paz, e uma festa preparada pelo Judiciário de Livramento com o apoio do Ministério Público, organização esta que em setembro irá se repetir, como garante a Comissão que organiza o Casamento.
Os apoiadores
Juíza Carine Labres, titular da Vara de Família em Livramento
MARCELO PINTO/AP
Curiosidades
O tradicional beijo não fará parte da cerimônia. Beijos não são permitidos dentro das dependências de um CTG, qualquer um deles, e isto faz parte das tradições e princípios destas entidades, por isso, seja casal hetero ou não, o beijo só será dado coletivamente na foto oficial, fora do prédio do CTG.
Devido à segurança e espaço do local, cada casal só poderá levar dois convidados, além dos padrinhos indicados para o casamento. As alianças tiveram a garantia prolongada: “enquanto estiverem casados, a garantia vai valer”. A cerimônia contará com transmissão ao vivo para todo o Brasil com emissoras locais e nacionais. Repórteres da capital e outras regiões já confirmaram presença.
Quem quiser, ainda pode ajudar:
Embora o casamento seja promovido pelo Judiciário, muitos itens da cerimônia precisam ser custeados, é o caso da confecção das alianças, dos tapetes vermelhos, entre outras coisas. Em entrevista, A Juíza Carine comentou que a necessidade agora é das indumentárias. “O casamento será na Semana Farroupilha, por isso precisamos das “pilchas”, tradicionais roupas gaúchas”. Precisamos de cerca de 20 peças de roupas masculinas e femininas para os casais, disse. Quem estiver disposto a emprestar as roupas, doar, ou colaborar de alguma forma, a Comissão organizadora pode ser contatada na Secretaria da 3ª Vara no Fórum.
Polêmicas e ameaças
O caso já gerou bastante discussão e polêmica. Autoridades foram ameaçadas direta e indiretamente por pessoas e entidades contrárias ao casamento homoafetivo dentro do CTG. Perguntada a respeito do assunto, a Juíza Carine Labres disse que prefere não comentar o assunto e destaca que o evento pertence aos casais, “este é o momento deles”. Gilbert Gisler, patrão do CTG disse que mesmo com as ameaças não desistirá de sediar o casamento.
Um dos casais homoafetivos fala ao Jornal A Plateia
Temendo a segurança e para preservar a identidade até a data próxima ao casamento, as duas jovens pediram que não fossem identificadas e permitiram apenas uma foto que preservasse a imagem.
A Plateia: Há quanto tempo estão juntas?
Casal: há quatro anos. Apenas um lado da nossa família apoiou, outro, nunca compreendeu e só há pouco tempo conseguimos a tolerância, porque contamos sobre o casamento, mas sempre teve um lado mais difícil.
A Plateia: O que motivou vocês a participarem do casamento de setembro?
Um dos casais homoafetivos fala ao Jornal A Plateia
ELIS REGINA/AP
A Plateia: Vocês se sentem seguras e com o apoio da Justiça?
Casal: Sim, temos. O Poder judiciário tem dado segurança para nós duas. Se não fosse com o apoio deles, seria difícil pra gente ir ao Cartório fazer o nosso casamento. Esse movimento e apoio têm ajudado muito.
Casal: Sim, temos. O Poder judiciário tem dado segurança para nós duas. Se não fosse com o apoio deles, seria difícil pra gente ir ao Cartório fazer o nosso casamento. Esse movimento e apoio têm ajudado muito.
A Plateia: Estão ansiosas?
Casal: Sim, muito, estamos contando os dias.
Casal: Sim, muito, estamos contando os dias.
A Plateia: E quanto às alianças e roupas? Há algo definido?
Casal: Já provamos a roupa, mas é segredo e as alianças também já estão certas.
Casal: Já provamos a roupa, mas é segredo e as alianças também já estão certas.
A Plateia: Haverá alguma festa ou lua de mel?
Casal: Não planejamos muito, nossa cabeça está no casamento, mas pensamos em viajar para perto da cidade.
Casal: Não planejamos muito, nossa cabeça está no casamento, mas pensamos em viajar para perto da cidade.
A Plateia: Desculpa a insistência, mas não haverá lua de mel?
Casal: Vamos ver, calma, talvez, quem sabe.
Casal: Vamos ver, calma, talvez, quem sabe.
A Plateia: Vocês se sentem seguras mesmo com as ameaças?
Casal: Ficamos um pouco assustadas, mas não acreditamos que cheguem a partir para a violência.
Casal: Ficamos um pouco assustadas, mas não acreditamos que cheguem a partir para a violência.
A Plateia: Pensaram em desistir?
Casal: Não jamais, já viemos até aqui e vamos até ao final. As pessoas não podem continuar sempre no preconceito.
Casal: Não jamais, já viemos até aqui e vamos até ao final. As pessoas não podem continuar sempre no preconceito.
A Plateia: Vocês frequentam algum CTG?
Casal: Sempre fomos ao galpão, vamos às festas gaúchas e cultivamos a cultura gaúcha. Todas as manhãs fazemos o chimarrão e por isso ficamos tristes que algumas pessoas manifestem esse preconceito. Mas temos esperança de que isso tudo um dia seja tolerado.
Casal: Sempre fomos ao galpão, vamos às festas gaúchas e cultivamos a cultura gaúcha. Todas as manhãs fazemos o chimarrão e por isso ficamos tristes que algumas pessoas manifestem esse preconceito. Mas temos esperança de que isso tudo um dia seja tolerado.
Fonte: http://www.aplateia.com.br