As medidas do governo para sanar a crise causada pelos sucessivos
aumentos nos preços dos combustíveis não surtiram efeito na mobilização
dos caminhoneiros. Os protestos, que entraram no terceiro dia, começaram
a afetar a distribuição de combustíveis no município, que já sofre com a
escassez de derivados de petróleo. Com isso, centenas de bageenses
buscaram os estabelecimentos, ontem, para se prevenirem do iminente fim
dos estoques. O empresário Rogério Magalhães Martins, 26 anos, conseguiu abastecer o
carro na segunda tentativa. Ele esteve em um posto próximo de sua
moradia, onde já havia acabado o estoque. “Para me precaver, vou encher o
tanque antes que acabe aqui também”, comentou. Jorge Adair Fagundes
Rodrigues, 56, também empresário, disse que os sucessivos aumentos do
preço nas bombas dobrou o custo do transporte para a empresa: “Preciso
do carro para trabalhar e, no último mês, nosso gasto com gasolina
saltou de R$ 300 para R$ 600, somente por conta da suba”, frisou.
Bombas secas De acordo com o proprietário de três pontos de venda, Paulo Delevati, o
estoque em seus dois estabelecimentos de Bagé devem terminar até as 12h
de hoje. A terceira loja, em Aceguá, está sem estoque desde terça-feira.
“Temos somente etanol e diesel (S10 e comum) para vender. Caso os
transportadores não sejam liberados nas próximas horas, não teremos como
atender os clientes”, declarou. Delevati atribuiu essa crise às
políticas governamentais, que ocasionaram o movimento dos caminhoneiros.
“Os custos dos derivados de petróleo subiram entre 15% e 16% nas
últimas semanas e o governo alardeia que reduziu (ontem) 2%, como se
fosse resolver o problema. Estão jogando o custo da quebra da Petrobras
nas costas da população”, protestou. A reportagem percorreu quatro pontos de venda em Bagé e constatou que o
movimento dobrou nos locais que ainda possuem produto para atender a
demanda. Os entrevistados, que não quiseram se identificar, reforçam que
os estoques estão acabando. O gerente de um dos locais detalhou que a
distribuidora que abastece a rede ficou sem combustível. “Aumentou muito
o movimento e ficamos sem diesel S10. Temos gasolina comum e aditivada
somente para hoje (ontem). Nossa previsão é que acabe o estoque de
diesel S500 até as 12h”, disse. Caso semelhante foi relatado pelo
subgerente de outro estabelecimento próximo. Ele explicou que a última
vez que o ponto foi abastecido por caminhão-tanque foi no sábado. “Ainda
temos estoque, porém, com este fluxo, devemos ficar sem reservas até as
12h (de hoje)", comentou. O proprietário de um posto no bairro São
Bernardo também relatou escassez nos estoques. “Não temos gasolina comum
e a aditivada deve terminar até o fim do dia (ontem). É ruim para nós,
mas foi preciso que essa movimentação dos caminhoneiros acontecesse para
conter essa política desvairada deste governo”, afirmou.
Mobilização mantida
No trevo da Santa Tecla e na BR-153, 80 profissionais mantêm, em Bagé, a
mobilização contra o governo federal e reiteraram que a ação vai
continuar. É o que garante o motorista Ragiel Ari Machado Ney, 43 anos:
“A resposta do governo é inaceitável. O diesel tem aumentado R$ 0,15
toda semana e a redução anunciada ontem, de R$ 0,05, não cobre os
prejuízos que a sociedade paga. Vamos continuar mobilizados e não vamos
afrouxar”.