21/03/2014

Comissão pretende resgatar importância dos negros na formação da cultura gaúcha



A história oficial do Rio Grande do Sul sempre omitiu a importância da participação dos negros naRevolução Farroupilha e sua contribuição para a formação da cultura gaúcha. 

Com o objetivo de superar essa invisibilidade e resgatar a atuação dos Lanceiros Negros, será instituída nesta sexta-feira, (21), Dia Internacional de Combate ao Racismo, às 10h, Comissão Estadual para organizar e orientar a programação alusiva aos 170 anos da batalha de Porongos, ocorrida em 14 de novembro de 1844. O ato será na sede da Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (FIGTF),

A comissão também será responsável pela recomendação da elaboração de estudos, pesquisas e incentivo à realização de campanhas relacionadas ao melhor entendimento da importância dessa batalha, assim como da importância da comunidade negra na Guerra Farroupilha e do combate ao racismo e invisibilidade negra na cultura gaúcha. Além disso, comissão vai apoiar a criação de comitês ou comissões assemelhadas nas esferas regional e municipal para monitoramento e avaliação das ações locais.

Para o diretor técnico da Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (FIGTF), Claudio Knierim, a comissão começa a atuar  em um momento que o Rio Grande do Sul é palco de atitudes racistas principalmente no esporte. “É ocasião para reafirmar a importância do povo negro na construção da identidade do Estado e na Guerra Farroupilha”. 

O diretor explica que  a comissão não vai se restringir  a essa questão, mas vai promover a organização de atividades culturais e debates pelo Interior, assim como encaminhamento de propostas ao Poder Público. Knierim adianta que uma das propostas é incluir no calendário escolar e de eventos a data de 14 de novembro como abertura da Semana da Consciência Negra.

A comissão - criada pelo decreto estadual 50.843 de 12 de novembro de 2013 - é coordenada pela FIGTF e composta por representantes do Gabinete do Governador; Procuradoria Geral do Estado; Secretarias de Cultura, Educação, Segurança Pública, Justiça e Direitos Humanos e Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra (Codene). Poderão integrar a comissão outros órgãos e entidades do Estado, da sociedade civil e representantes do Movimento Negro Unificado (MNU), União de Negros pela Igualdade (Unegro), Movimento Quilombista e Organização de Mulheres Negras – Maria Mulher.

BATALHA DE PORONGOS
Porongos foi palco, no final da Revolução Farroupilha, de um dos mais trágicos acontecimentos da história do Rio Grande do Sul e do Brasil – o massacre dos intrépidos negros farroupilhas, notabilizados como Lanceiros Negros, que lutaram pela República na esperança da liberdade prometida e que, ao invés disso, foram barbaramente aniquilados na madrugada de 14 de novembro de 1844. Uma das questões menos estudada e conhecida da Revolução Farroupilha é a contribuição dos negros nessa luta e o destacado papel que nela tiveram os célebres Lanceiros Negros.

LANCEIROS NEGROS
Eram negros livres ou libertados pela República - com a condição de lutarem como soldados pela causa republicana – ou por ex-escravos pertencentes aos imperiais. Em sua maioria foram recrutados entre os negros campeiros e domadores das Serras dos Tapes e do Herval (Canguçu, Piratini, Caçapava, Encruzilhada e Arroio Grande), na zona sul do Estado. Inicialmente comandados pelo tenente-coronel Joaquim Pedro Soares, mais tarde tiveram por chefe o major Joaquim Teixeira Nunes. Participaram da expedição a Laguna com importante papel na constituição da República Juliana. Eram a tropa de choque do exército farroupilha. Foi tão grande o seu papel que, em 31 de agosto de 1838, foi formado o 2º Corpo de Lanceiros Negros, com 426 combatentes.