18/07/2017

Santana do Livramento - A vida de pacientes em risco

Mais uma semana começou tensa. Já pela manhã, no meio político repercutia a denúncia de médicos santanenses que aponta a grave situação do hospital que coloca em risco a vida dos pacientes.
Ministério Público

O termo de declaração foi assinado pelos médicos Nelson Eula, Diretor Clínico do Hospital; Thiago Lopes, Delegado Seccional do Conselho Regional de Medicina (CRM Livramento); Roberto Azevedo, plantonista do Pronto Socorro e UTI; Flávio Fialho, representante Sindicato Médico do Rio Grande do Sul; e Rita Maia, presidente da Associação Santanense de Medicina.
No documento eles falam em nome de todos os médicos do hospital e explicam, detalhadamente, os problemas enfrentados em cada departamento.

Ponto a ponto

Inicialmente o documento destaca que o Pronto Socorro tem uma planta física   inadequada e apenas um plantonista durante o período das 8h às 20h, atendendo mais de 120 fichas. Segundo os médicos, os pediatras se negam a trabalhar no Hospital por causa das péssimas condições de trabalho.
Sobre a UTI, o documento informa que o hospital não conta com monitores de frequência cardíaca suficientes para os leitos, bem como aparelhagens sem manutenção, tanto que monitores de sinais vitais, “ficam ligados para inglês ver”, destaca o documento.  “Há alguns meses o esgoto do hospital transbordou e alagou a UTI”, diz na declaração.
Na pediatria não há manutenção das incubadoras, fazendo com que a Santa Casa tenha que pedir emprestado a Rivera. Já na obstetrícia, não há um responsável técnico o que, segundo os médicos, é “terra de ninguém”.
O bloco cirúrgico é outro ponto relatado pelos profissionais, segundo a declaração, há um problema crônico  com a falta de materiais para os procedimentos, motivos pelos quais são canceladas as cirurgias.
Os médios depoentes disseram também que a intervenção municipal não melhorou a situação da instituição.
“Nada foi resolvido, tanto na administração municipal passada como na atual, isto é, os salários dos funcionários continuam atrasados, falta de cumprimento de encargos trabalhistas e deterioração dos materiais do Hospital”, diz o documento.
Nos últimos 3 meses, segundo o documento, a situação piorou muito. Há problemas gravíssimos de gestão como falta de transparência na gestão; falta de conselho fiscal; falta de controle de receitas e despesas.

Cabides de emprego

Por fim, os médicos relatam que, aparentemente, o hospital está se transformando em “cabide de empregos”. “Não se sabe a que título o Sr. Wainer está administrando o nosocômio, já que nunca se viu o termo de nomeação. O sobrinho do prefeito, Sr. Thiago Charopen, que foi candidato a vereador, está trabalhando desde fevereiro de 2017 como Chefe da Portaria e Central  de leitos, o que gera suspeita de nepotismo.

Entrevista

O jornal A Plateia procurou o médico diretor clínico do Hospital, Nelson Eula. Ele afirmou que as dificuldades estão cada vez mais sérias para dar o atendimento básico. “Chegou a um ponto em que a situação é de risco para o exercício da minha profissão e para o paciente”, disse ele destacando que a situação é mais grave no Pronto Socorro.
Segundo ele, nunca houve uma condição ideal de atendimento. “Sabemos que existe risco, mas nos últimos quatro meses a situação se agravou muito”, ressaltou defendendo: “se existisse Conselho Gestor, nós teríamos um espaço para poder ajudar”.
Eula destacou que o pedido é de socorro. “Eu acredito que ainda temos tempo de reverter a situação, mas temos que trabalhar duro. A ideia não é que o hospital feche, mas se não melhorar, não será mais sustentável. O poder público precisa colocar as calças e nos ajudar”, frisou.

Contraponto

Por meio de nota, o diretor administrativo da Santa Casa disse que tomou conhecimento das denúncias através da imprensa e que, após conversar com a direção técnica, entende que a denúncia não partiu de todo o Corpo Clínico do Hospital.
“No fundo do meu coração, espero realmente que estas denúncias técnicas ora trazidas ao MP  e ao público, sejam por conta dos pacientes que por ventura possam correr algum risco, e não, porque na semana passada fiz uma escolha,  pagar  40% de maio aos funcionários e nada aos médicos.  Penso que a segunda alternativa seja a mais plausível, pois, as queixas trazidas, não são de hoje, estão aí há mais de ano e meio, mas acredito que esta escolha que fiz, seja uma parte do movimento que foi iniciado com esta denúncia. Foi ouvido aqui nos corredores do hospital, de um médico, se querem guerra, vão ter guerra.  Ora senhores, isso não são termos  de serem usados em um ambiente hospitalar, muito menos de quem deve zelar pela vida”, diz Wainer na nota.

Sem cabide

“A comunidade e as autoridades que façam a sua escolha, pois, pelo que se sabe, as questões técnicas levantadas como problemas, estão apontadas no relatório da Fundatec, que foi entregue à gestão passada em novembro de 2015.   Espero que quem as fez, não esteja querendo fechar o hospital como da outra vez.  Vamos junto com a direção técnica responder todos os itens apontados e mostrar que mesmo com 5 meses de gestão já fizemos várias melhoras” reafirmou dizendo que os assuntos técnicos não são de hoje.

O diretor informou ainda que reduziu os gastos com a contabilidade, jurídico, segurança, telefonia, lavanderia e lixo hospitalar. “Começamos a retomar o controle do hospital, isto é, ajustar nossos serviços ao que diz o contrato com a Secretaria de Saúde”, destacou. Segundo a nota, houve mutirão de cirurgias em março para cumprir com as metas que estavam atrasadas, sob pena de perder mais recursos. “Após estas ações, começamos a limitar o número de cirurgias para o que está no contrato, 30 eletivas e 30 traumatológicas por mês. E claro, todas as cesáreas e as urgências necessárias ao atendimento do PA”.
Wainer ressaltou que realizou a prestação de contas dos 6 meses do ano em que esteve à frente da instituição. “Aqui não se faz mágica, não se cria dinheiro, e as contas vem todos os dias. Temos que usar da criatividade e da credibilidade para fazer o hospital andar dia a dia”, explica. Quase no fim da nota, o diretor administrativo falou sobre as questões de cabides de emprego na Santa Casa. “Aqui não existe empreguismo e nem apadrinhamento político. Não empreguei nenhum parente. Estamos agora em julho com 35 funcionários a menos que fevereiro”, finalizou na nota.

Fonte: http://www.aplateia.com.br/