30/03/2015

Santana do Livramento - Dólar em alta derruba negócios em free shops

Lojas no lado uruguaio fecham e demitem, e hotéis apelam a tarifas promocionais para fazer frente à debandada

Avenida Sarandi, atualmente, com pista vazia, contrariando outras temporadas
Avenida Sarandi, atualmente, com pista vazia, contrariando outras temporadas


A disparada do dólar literalmente esfriou os negócios na zona de free shop na fronteira do Estado com o Uruguai. Rivera, que tem a maior concentração desse tipo de comércio na extensão territorial de mil quilômetros, viu o fluxo minguar desde o começo de março. Lojas estão fechando ou fazendo cortes de pessoal na principal via de compras da cidade uruguaia, separada por uma avenida da gaúcha Santana do Livramento. A Associação Comercial e Industrial local teve informação de estabelecimentos no lado uruguaio que o movimento caiu 85% frente ao ano passado.

"Piorou, piorou. Falam em mais de 600 demissões em Rivera", informa o presidente da entidade da cidade gaúcha, Sérgio Oliveira. O dirigente reforça que a queda no comércio vizinho afeta o movimento de vendas na porção brasileira e projeta que a esperança do comércio agora é o efeito feriadão de Páscoa, que coincidirá com a semana do turismo no Uruguai. "É o que pode salvá-los", resume Oliveira. O deserto nas ruas e avenidas de Rivera se cristalizou desde que o dólar rompeu a barreira dos R$ 3,00, no começo de março. Desde então, a moeda elevou o patamar e não recuou. Terminou cotada a R$ 3,2236 na sexta-feira-feira.

Os free shop e demais lojas apelam para atrativos, como câmbio mais baixo e compras ao estilo de leve dois e ganhe o terceiro item de graça. Perfumes e bebidas são a munição para fazer os escassos turistas comprarem. Hotéis de Livramento, que dependem do movimento de turistas, registram queda de 60% nas reservas e praticam preços promocionais com tarifas que não alteram em fins de semana. Tudo para amenizar a ressaca inevitável da desvalorização do real. O diretor-geral do grupo Verde Plaza, Mozart Hillal, endossa que a Semana Santa pode dar um alento. "O fluxo da Páscoa será o termômetro de como vai ser nos próximos meses", admite Hillal.

Com três hotéis em Livramento e um em Rivera, onde também está um restaurante de comida típica da fronteira, a rede com 1,1 mil leitos unificou os valores das diárias. O preço 20% menor virou padrão. Facilidades como transporte de graça do hotel aos free shop e refeições incluídas no pacote engordam a oferta. O Verde Plaza registra queda de 60% na ocupação ante o fim do ano e 30% sobre o mesmo período de 2014. "A gente quer ajudar o turista a vir para cá", justifica Hillal. Terceiro destino de passeio no Estado, depois de Gramado e Canela, a região espera que o dólar não atrapalhe ainda mais. "Tivemos uma queda em 1999 e 2000, após a desvalorização do Real quando o câmbio bateu em R$ 4,00. Agora as pessoas estão com mais renda", acredita Hillal.

O sumiço dos ônibus de excursões nas áreas de estacionamentos desses veículos prova o tamanho da crise. "Não tem mais ônibus. Chegamos a ter 40 em dois dias", contrasta Oliveira. "O clima é de apreensão. O outro lado (Rivera) está desesperado, pois precisa do ingressso de reais para ter liquidez", relaciona o dirigente. Há casos, garante, de lojas dispensando mais de 50 pessoas. Quem mais sofre é o pequeno lojista. Empreendimentos uruguaios como um hipermercado da rede Macro Mercado passam desertos, e um shopping avaliado em mais de US$ 70 milhões está com obras paradas, segundo Oliveira.

O desemprego vizinho não é nada bom para o município gaúcho. A falta de trabalho reduz a renda e aumenta a insegurança, levando uruguaios a cortar gastos na cidade gaúcha. Cerca de 75% dos lindeiros compram no comércio de Livramento e respondem por 50% da carteira de crediário das lojas. "Historicamente, quando a economia do Brasil vai mal (como agora), fica mais barato para eles gastarem aqui. Mas agora os hotéis são prejudicados e nem o consumo uruguaio está garantido", lamenta o dirigente.

Fonte: http://jcrs.uol.com.br/